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Fim de 1927. Benjamin acrescentou, a uma carta de Scholem, um fragmento que ele intitula ‘Ideia de um Mistério’: ‘Trata-se de representar a história como um processo no qual o homem, fazendo ao mesmo tempo a função de gestor da natureza muda, apresenta queixa a propósito da Criação e da não vinda do Messias prometido. Entretanto, a corte decide ouvir as testemunhas do futuro; comparecem então o poeta que o sente, o escultor que o vê, o músico que o ouve e o filósofo que o conhece. Todavia, os seus testemunhos não concordam um com o outro, embora todos testemunhem [como certa] a futura vinda do Messias. O tribunal não ousa confessar sua indecisão. É porque novas queixas chegam incessantemente, assim como novos testemunhos. Há a tortura e o martírio. Os bancos dos jurados estão ocupados pelos vivos, que ouvem com a mesma desconfiança o querelante e as testemunhas. Os jurados transmitem seus lugares, por sucessão, a seus filhos. Finalmente, desperta neles o medo de serem escorraçados de seus bancos. Ao fim, todos os jurados se põem em fuga, só permanecem no lugar o querelante e as testemunhas’.Se aqueles que estão reunidos em Testemunhas do Futuro: Filosofia e Messianismo foram ao mesmo tempo pensadores dos ‘tempos sombrios’ e ‘testemunhas do futuro’, isto se deve a uma incisão mais ou menos profunda da ideia do messianismo em suas obras. A escolha de um ou outro vértice do triângulo das categorias do monoteísmo autêntico – Criação, Revelação e Redenção -, redesenhado na Estrela de Rosenzweig, configurou vertentes sistemáticas para a especulação filosófica do judaísmo moderno. Cada um de seus representantes, sobretudo neste grupo que reúne Cohen, Rosenzweig, Benjamin, Scholem, Buber, Bloch, Strauss, Jonas e Lévinas, enveredou em sua busca do mundo de amanhã para o homem de hoje, por um desses ângulos de uma salvação possível à luz dos ensinamentos bíblicos, talmúdicos, rabínicos, cabalísticos, em versão teológica ou filosófica. Mas todos eles radicados ou vinculados à tradição judaica. Esta lhes deu o fulcro de sua linguagem, cujo léxico se define pelas noções de liberdade, paz e perfeição, conjugadas pelo saber, com o verbo ser de seu vir a ser no futuro.