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A obra de Freud vem sendo elucidada há mais de vinte anos por trabalhos que descreveram e reconstituíram a auto-análise de seu autor; as etapas de sua descoberta da psicanálise, a formação de seus conceitos e de seu vocabulário. Melanie Klein, criadora da psicanálise da criança pela técnica do brincar é, depois de Freud, a autora das descobertas clínicas e teóricas mais importantes em psicanálise, não tendo sido sua obra beneficiada até o presente momento de tal elucidação histórica e epistemológica. Presenciamos, neste trabalho, o surgimento da vocação psicanalítica de Melanie Klein: é a tentativa que faz, em 1919, de educar seu filho caçula segundo os princípios da psicanálise, na qual acaba de se iniciar junto a Ferenczi. Rapidamente, o projeto educativo aprofunda-se e assume uma dimensão psicoterápica. Um fato despercebido até então é evidenciado: a existência de um primeiríssimo sistema kleiniano, abandonado em seguida, mas que precedeu a descoberta da técnica do brincar e que a tornou possível: consiste, essencialmente, em uma teoria das sublimações e das inibições. As experiências clínicas através das quais efetuou-se a descoberta da técnica do jogo são em seguida analisadas. As psicanálises das crianças muito pequenas, cujos jogos e fantasias colocaram Melanie Klein, pela primeira vez, na presença do complexo de Édipo arcaico, dos estágios iniciais do superego e da existência de uma transferência precoce, são descritas e comentadas. Finalmente é analisada a evolução clínica e teórica que conduz, em 1932, às concepções expostas na psicanálise infantil: descoberta do núcleo psicótico da personalidade, descrição dos aspectos originais da psicose infantil, e primeira forma das teorias da projeção, da introjeção, da clivagem e da reparação.