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Por Carlos Francisco de Morais Tudo na vida de Gabriel Perissé o preparou para escrever o poema-livro agora em nossas mãos. São nítidas em A escada as pegadas do acadêmico e professor universitário, do palestrante e do colunista, do escritor reconhecido ou seja, daquele que, de há muito, se decidiu a viver da palavra. Pela palavra. Na palavra. Se, no início, era o Verbo, em A escada ele é também o fim, o meio, sendo sempre um recomeço infinito. Trata-se, portanto, de um percurso, uma aventura, uma epopeia. Na contemporaneidade, há quem diga, o épico não é mais possível, pois todas as montanhas já foram escaladas: é para lembrá-los de que restam, desafiadores, os picos inexpugnáveis e os vales sombrios da alma, que A escada existe. Como Dante em sua Divina Comédia, o alter ego que ouvimos e seguimos nele descreve um caminho espiritual descendente que é pura ascese, em seus propósitos e efeitos, como se esta escada feita de palavras fosse uma daquelas que, nas litografias de M. C. Escher, sobem e descem ao mesmo tempo, sempre à procura do infinito. Se repõe em cena temas clássicos e medievais, Gabriel Perissé também exercita em A escada as conquistas mais relevantes da poesia moderna: a concentração da linguagem, a intertextualidade metódica, a espacialização visual do discurso, a consciência de que tudo é linguagem. Nada, entretanto, se perde, como tantas vezes, numa performance apenas exterior. De degrau em degrau, sua poesia maiúscula conduz o leitor pelo Inferno, Purgatório e Paraíso da descoberta de si.