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Ao ler os versos de textos para lembrar de ir à praia, livro de estreia de Rodrigo Luiz Pakuslki Vianna, algo nos invade, não sabemos se o mar, se areia, se maresia, se sereia, se pérola, mas de certo somos levados a caminhar por ???uma praia que abarca todas/ as ausências que contemos??? ??? praia circular-infinita que oxida a cidade. No oceano de ruínas, é o esqueleto do mar e seus véus de ondas de água-viva que vemos. A paisagem bonita novamente, tocada pela natureza.
Já no primeiro poema nos detemos em versos como: ???ando sob fios de alta/ tensão e as aves/ que ali convocam seus descansos???, ???a bandeira vermelha anuncia a revolução das marés???. São versos de quem observa as minúcias e as projeta (seu cinema transcendental) na mente do leitor.
Rodrigo também escreve poemas de amor com maestria. Como no belo e sonoro ???sol de maio???: ???perturbo teu horizonte por um lapso/ para ver surgir no teu rosto meu máximo/ criamos o todo que a perícia perdura/ a circunstância tem vida e espessura/ dedos costuram candura com areia???.
As três seções do livro parecem dissolver os limites entre o corpo e a praia, enxergam a morte da areia mumificada num brinco ??? e como poeira cósmica que somos, o poeta nos diz que ???a areia é um fragmento da areia???.
A música que se repete na concha dos ouvidos é o som dos pés molhados secando na faixa de areia; o silêncio de todo o oceano despedaçando o labirinto. A praia e a cidade: cenários. A praia como extensão da cidade, ambas como extensão do corpo. Definitivamente ???as praias irão invadir os arranha-céus??? e enfim poderemos assistir ???grãos de areia construindo a elipse???, a noite movimentando o desenho do céu, ???o início da viagem de cada peixe???.
Natália Agra