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A expressão ???sujar o ninho??? se refere ao ato de atacar o lugar mesmo que nos acolhe, aquele onde vive nossa primeira identidade. Este livro é um registro do percurso do olhar do poeta desde seu ninho, refletindo sobre o que lhe diz cada coisa, cada elemento que compõe sua pessoa e participa do constructo que é sua vida.
Os poemas visitam o universo ilimitado da memória para falar do espanto e da nódoa de estar no mundo, mas também de ternura e desamparo. E o fazem com brio: a poesia de Luiz Meyer surpreende ao não se entregar ao que poderia haver de melancólico no sentimento de perda; ao contrário, é a voz de um poeta que conhece o valor do desaforo, da risada irônica para falar do que pesa.
Partindo do que está mais perto ??? os afetos de fundação ??? e logo se estendendo mais e mais, alçando-se, o olhar sensível conquista o horizonte até além, até a esfera política (para o mundo) e religiosa (para os arcanos do espírito). O Brasil ??? o cadinho e a esbórnia ??? está presente, escangalhado pelos predadores de todos os tempos, até os atuais ???conjurados do altiplano???. Em seguida, sempre ampliando o escopo do que é visto, vêm os arcanos judaico-cristãos: Abraão, venal, puxa-saco de Deus, e seu filho e vítima, Isaac, o inocente-básico. A fábula moral também está em Moisés, que ao trair o seio-mãe e se afastar da beleza, ao buscar o encontro com o divino, opta pelo combate, pela busca do poder, e encontra o vazio existencial???
Em sua sensibilidade peculiar, a poética de Luiz Meyer exprime com veemência a dificuldade do encontro com o mundo. Ao mesmo tempo em que busca o rigor do significado, é uma linguagem que explora o prazer das palavras em várias vozes: a austera, do profeta, a descarada, do provocador, a obscena, do iconoclasta ??? e também a enternecida, ao falar dos primeiros afetos.
A coda do livro é uma molecagem bem-humorada: descreve o velório do autor nos mínimos detalhes, planejado adrede. Ardiloso, o poeta ???pula o quadro de acesso??? e finaliza o assunto com um vigoroso ???basta???.
Heloisa Jahn