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Tem gente que nasce rebelde. Lendo a historia de Zelda Fitzgerald, identifiquei-me com seu espirito insubordinado. Lembro de passear com minha mae olhando vitrines e perguntar por que as pessoas nao chutavam e quebravam aquilo. E com esse tom franco e irreverente – e ao mesmo tempo doce e poetico – que Patti Smith revive sua historia ao lado do fotografo Robert Mapplethorpe, enquanto os dois tentavam ser artistas e transformar seus impulsos destrutivos em trabalhos criativos. Crescida numa familia modesta de Nova Jersey, Patti trabalhou em uma fabrica e entregou seu primeiro filho para adocao, antes de se mandar para Nova York, com vinte anos, um livro de Rimbaud na mala e nada no bolso. Era o final dos anos 1960, e Patti teve de se virar como pode: morou nas ruas de Manhattan, dividiu comida com um mendigo, trabalhou e dormiu em livrarias e ate roubou os colegas de trabalho, enquanto conhecia boa parte dos aspirantes a artistas que partilhavam a atmosfera contestadora do famoso verao do amor . Foi entao que conheceu o rapaz de cachos bastos que seria sua primeira grande paixao: o futuro fotografo Robert Mapplethorpe, para quem Patti prometeu escrever este livro, antes que ele morresse de aids, em 1989. So garotos e uma autobiografia cativante e nada convencional. Tendo como pano de fundo a historia de amor entre Patti e Mapplethorpe, o livro e tambem um retrato apaixonado, lirico e confessional da contracultura americana dos anos 1970, desfiado por uma de suas maiores expoentes vivas. Muitas vezes sem dinheiro e sem emprego, mas com disposicao e talento de sobra, os dois viveram intensamente periodos de grandes transformacoes e revelacoes – ate mesmo quando Robert assume ser gay ou quando suas imagens ousadas e polemicas comecam a ser reconhecidas e aclamadas pelo mundo da arte. Ao refazer os lacos sinceros de uma relacao muito peculiar, Patti Smith revela-se uma escritora e memorialista de grande calibre – e o modo como seu texto reflete a lealdade dos dois e comovente, apesar de todas as diferencas. Pincelado com imagens raras do acervo de Patti Smith, So garotos pode ser lido como um romance de formacao de dois grandes artistas do seculo XX, que apostaram na ousadia, na liberdade e na beleza como antidotos a massificacao – e contra todas as recomendacoes. O retrato mais fascinante e divertido da descolada-mas-chique Nova York do final dos anos 60 e comeco dos 70. Tom Carson, The New York Times