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A memória é a capacidade humana que possibilita reavivar aquilo que passou. Do poema “Memória” vem o título do livro de Fernando Moreira Salles: “Lembrar/ é ser longe.” Nos poemas do autor, a passagem do tempo se relaciona à busca da delicadeza e à impermanência dos gestos mais fugidios, como “[…] o murmúrio da tarde/ o espanto das crianças/ que pisam canteiros/ e aprendem a rezar”, ainda que já se tenha “[…] o gosto da noite/ o perfume de um lírio/ tudo enfim e só/ o que quer o Deus” (“Confiteor”). O sentimento que fica da lembrança, porém, é ambíguo: prazeroso e reconfortante, mas também amedrontador, pois tudo o que passou se perdeu irremediavelmente. A procura dessa poesia é pela beleza rara que, como indica o nome de um dos poemas, está por um “triz”, tal qual “[…] ínfima flor/ entre escombros/ lasca de vida […]”. Na reflexão da maturidade, as lembranças da infância e da juventude – impregnadas de afeto, tempo e silêncio – se transformam em matéria de poesia.