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Há entretanto aqueles que escrevem para aceder ao silêncio e não para expressar-se, para curto-circuitar o pensamento e não para pensar, para desaparecer e não para aparecer. Escrever torna-se atividade que se exerce em outra dimensão, escrever é o movimento de um sopro, que se funde, se confunde com sua fonte, que é vida, isto é, poesia em ação. Escrever, então, escapa à literatura e aos profissionais da expressão, escapa à lei e à culpabilidade.Tais homens, a que a rigor a tradicional noção de autor nem mais se aplica, deixam obras desconcertantes. A regra é a literatura, a regra é o caso dos homenzinhos que gostam de escrever. Há uma exceção que se subtrai às regras. Como perceber a exceção se não é possível considerá-la nos termos a que nos habituaram a literatura e a crítica? Num curto texto sobre Lautréamont, Henry Miller sugere uma via: a análise dos ingredientes e da construção da obra não ensinam nada. “Alguém crucificou-se: isso é o que conta”. Crucificou-se, assumiu o mal em toda a sua extensão e diversidade, no momento em que o mundo inteiro degringolava – embora ainda secretamente, no inconsciente. Alguém crucificou-se deixando, na expressão de Miller, uma bíblia negra, onde se lê: “Não estamos mais na narração. […] Ai! agora chegamos ao real, no que diz respeito à tarântula.”