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Se a imagem da metropole no seculo XX era a dos arranha-ceus e das oportunidades de emprego, Planeta Favela leva o leitor para uma viagem ao redor do mundo pelos realidade dos cenarios de pobreza onde vive a maioria dos habitantes das megacidades do seculo XXI.O urbanista norte-americano Mike Davis investiga as origens do crescimento vertiginoso da populacao em moradias precarias a partir dos anos 80 na America Latina, na Africa, na Asia e no antigo bloco sovietico. Combinando erudicao academica e conhecimento in loco das areas pobres das grandes cidades, Davis traz a historia da expansao das metropoles do Terceiro Mundo, analisando os paralelos entre as politicas economicas e urbanas defendidas pelo FMI e pelo Banco Mundial e suas consequencias desastrosas nas gecekondus de Istambul (Turquia), nas desakotas de Accra (Gana) ou nos barrios de Caracas (Venezuela), alguns dos nomes locais para as aproximadamente 200 mil favelas existentes no planeta.Cada aspecto dessa nova cidade e analisado: informalidade, desemprego, criminalidade; o gangsterismo dos senhorios que lucram com a miseria; a incapacidade do Estado de oferecer infraestrutura e casas populares, e em contrapartida sua atuacao nas remocoes de revitalizacao que abrem caminho para a especulacao imobiliaria; as solucoes ilusorias de ONGs e organismos multilaterais; os limites das estrategias de titulacao de propriedade, os riscos ambientais e sanitarios de se viver em favelas, com exposicao a residuos toxicos e carencia de saneamento basico; o crescimento do fanatismo religioso; e a disseminacao de doencas como colera e AIDS.Alem das estatisticas, o autor revela as historias tragicas que os dados frios nao mostram, como as criancas abandonadas pelas familias nas ruas de Kinshasa (Congo), por serem consideradas feiticeiras , ou a nuvem de gas letal expelida pela fabrica da Union Carbide na India, que causou a morte de aproximadamente 22 mil habitantes de barracos nos arredores da unidade da empresa, que nao tinham informacao sobre os riscos ou opcao de morar em outro local.O livro traca um retrato da nova geografia humana das metropoles, onde algumas ilhas de riqueza florescem em torres de escritorio ou condominios fortificados que imitam os bairros do suburbio norte-americano, separados da crescente populacao favelada por muros e exercitos privados, mas conectados entre si por auto-estradas, aeroportos, redes de comunicacao e pelo consumo das marcas globais. Como coloca o autor, citando, entre outros, Alphaville, enclaves constituidos como parques tematicos deslocados da sua realidade social mas integrados na globalizacao, onde se deixa de ser cidadao do seu proprio pais para ser um patriota da riqueza, nacionalista de um afluente e dourado lugar-nenhum , como os classifica o urbanista Jeremy Seabrook, citado no livro.Davis explora a natureza desse novo contexto do conflito de classes, entre os que vivem dentro dos muros como em uma cidade medieval , e a humanidade excedente , que vive fora dela. Um proletariado informal , ainda nao compreendido pelo marxismo classico e tampouco pelo neoliberalismo.A materializacao extrema desse conflito esta no ultimo capitulo do livro, que trata das analises do Pentagono sobre a guerra do futuro nas megafavelas do Terceiro Mundo, e o presente do exercito norte-americano tentando monitorar as vielas de Sadr City, a maior favela de Bagda. Se a globalizacao da riqueza e constantemente celebrada pelos seus entusiastas, em Planeta Favela Mike Davis mostra o outro – e imenso – lado da historia: as sincronias e semelhancas nada acidentais no crescimento da pobreza no mundo.A edicao brasileira traz ainda um posfacio da urbanista Erminia Maricato que dialoga com a obra de Davis e um caderno de fotografias de favelas brasileiras de Andre Cypriano.