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Se hoje ideias como lugar de fala, teoria queer e decolonialismo ganham espaco nas reivindicacoes feministas contemporaneas, elas tiveram sua origem em pesquisas e teorias desenvolvidas ao longo das ultimas decadas por estudiosas e ativistas como Teresa de Lauretis, Donna Haraway, Maria Lugones, Nancy Fraser, Sandra Harding, Judith Butler, Gloria Andalzua, alem de brasileiras como Lelia Gonzales e Sueli Carneiro. E nesse eco de construcoes e indagacoes, dos anos 1980 ate os dias de hoje, que acompanhamos a consolidacao de um importante campo de saber. A missao deste livro e, portanto, a de facilitar o estudo das tendencias teoricas e o avanco dos trabalhos academicos e politicos em torno da questao de genero, tema tao amplo quanto polemico e fundamental no contexto atual. Organizado por Heloisa Buarque de Hollanda, ela mesma referencia no campo dos estudos feministas no Brasil, tendo sido responsavel pela edicao no pais de obras importantes como Tendencias e Impasses, o feminismo como critica da cultura (1994), em que apresentava alguns desses textos e autoras de forma pioneira, a presente coletanea reune dezenove ensaios, tendo seu ponto de partida nos anos 1980, momento em que a propria ideia de genero se consolida em suas abordagens mais relacionais e culturais, de que sao exemplo trabalhos como os de Joan Scott, Nancy Fraser, Sandra Harding e Monique Wittig. Em um segundo momento, ainda na decada de 1980, as reinvindicacoes especificas ganham espaco e a interseccionalidade, atualmente tao presente nas pautas feministas, se destaca nas vozes contestatorias de Audre Lorde, Patricia Collins, Gayatri Spivak, Lelia Gonzales e Sueli Carneiro. Ja no seculo XXI, em uma frente mais radical, se enunciam os conceitos contemporaneos de contrassexualidade, queer, sexopolitica, em que Judith Butler e Paul Beatriz Preciado se destacam como tendencia revolucionaria, atravessando os campos da teoria e da politica. Como a organizadora explica em seu texto introdutorio, se essa selecao teve como mote a vontade de compartilhar uma experiencia intelectual pessoal, pensando no tempo presente e nas novas geracoes que se formam e se articulam, ela revela tambem, na propria escolha e articulacao dos artigos, a necessidade de fazer um alerta: que o feminismo do seculo XXI coloque na agenda a urgencia do questionamento das tao perigosas quanto dissimuladas tecnologias de producao das sexualidades e a responsabilidade de recusar qualquer hierarquia ou prioridade na luta contra a opressao de todas as mulheres, em suas mais diversas caracteristicas de genero, raca, etnia ou religiao.