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Em Parque Cultural (1983), Serguei Dovlátov (1941–1990), um dos escritores russos mais icônicos do século 20, nos conduz a um estranho lugar no qual “tudo vive e respira Púchkin”. Nesse parque-museu dedicado a Aleksándr Púchkin, uma espécie de “Pushkinland”, o narrador em primeira pessoa, alter ego do escritor, desconstrói o mito soviético de Púchkin e cria, ao mesmo tempo, “um paralelo entre dois mitos”, o próprio e o do maior poeta russo. A novela, uma das mais notáveis de Dovlátov, toca ainda em questões da estagnação da era Brejnev, nos anos 1970, como o alcoolismo, a censura, o antissemitismo e a emigração. E tudo vem permeado por um humor ferino e inconfundível, numa escrita concisa e poética: ele “era, acima de tudo, um estilista fabuloso. Seus contos se baseiam, principalmente, no ritmo da frase, na cadência do discurso. Eles são escritos como um poema”, como notou seu amigo Joseph Brodsky. Um misto de Gógol e Hemingway, Serguei Dovlátov, cuja literatura fica num limiar curioso entre a realidade e a invenção, cria em Parque Cultural um cenário triste e hilário, grotesco e lírico. Um texto profundamente russo mas repleto de questões gerais, como o amor e a literatura.