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Logo na introducao de O sonho mais doce, Doris Lessing afirma que nao vai escrever o terceiro volume de suas memorias – ja publicadas em Debaixo da minha pele e Andando na sombra – por receio de ferir susceptibilidades. Isso nao a impede, contudo, de fazer uma critica ao que julga ter dado errado no seculo XX. Poe em xeque o manto real da esquerda, questiona o feminismo, as terapias alternativas, as organizacoes humanitarias e a ja esquecida campanha em prol do desarmamento nuclear. Na primeira parte, o foco e a ampla mesa da cozinha de um casarao londrino onde se reunem jovens de diversas extracoes que sao alimentados de comida por Frances Lennox – a mao substituta, liberal e compreensiva de todos eles -, e de retorica pelo camarada Johnny ex-marido de Frances e stalinista convicto. Estamos na decada de 60 e os jovens sonham mudar o mundo: participam de passeatas, protestos e comicios, abandonam os estudos, voltam a estudar, lutam em Paris, colhem uvas. Na segunda parte, esses jovens ja entraram no espirito dos anos 80. A acao se transfere para uma missao catolica na Zimlia, numa Africa assolada pela AIDS em meio a corrupcao, seca e supersticoes. Com a verve e a indignacao que a caracterizam, Lessing traca um panorama do seculo XX acompanhando tres geracoes e transita, com conhecimento de causa, entre a Londres que tem tudo e a Africa carece de tudo.