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O livro dos Amigos

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Agora que boa parte da literatura nos chega aos pedaços, especialmente sob a forma de citações, este livro adquire uma
curiosa atualidade. Nesta formidável seleta de aforismos, que mistura Confúcio, Novalis, Maomé e Pascal, o escritor austríaco Hugo von Hofmannsthal revela como a forma breve, por sua vocação enfática e reflexiva, não cessou de seduzir os modernos.
Publicado pela primeira vez em 1922, numa edição do autor de oitocentos exemplares, o livro foi concebido como uma
espécie de coleção pessoal, um presente destinado a um grupo de amigos, leitores tão exigentes e escrupulosos como o próprio organizador da coletânea. A ideia de compartilhar com seus interlocutores ditados e máximas selecionados foi um projeto acalentado por Hofmannsthal ao longo de vinte anos. Desde a juventude ele sonhava com um livro que pudesse ser alterado e aumentado com o tempo, incorporando a percepção mais fina e os ceticismos colhidos na vida vivida e nos livros lidos.
Hofmannsthal é aqui tributário de uma dupla tradição: uma antiga, do gênero grandiloquente e sentencioso dos latinos,
e outra moderna, que fundou um novo modo de enunciação, em que o sujeito literário e social assumia a autoridade do próprio pensamento.
Atraído pelo aforismo, mas também pelo anedótico, O livro dos amigos remete tanto aos escritos moralistas de La
Rochefoucauld quanto às máximas de Goethe. Atesta tambémo alcance do primeiro romantismo, o dos irmãos Schlegel e da revista Athenaeum, em que foi gestada uma literatura que era a sua própria teoria e realização. Ao contrário da função de facilitação do contato com o literário que a citação vem cumprir em nossos dias, para Hofmannsthal e seus amigos as formas breves eram desafiadoras, pois mantinham no horizonte da experiência de leitura a possibilidade de teorização do vivido, em sua virtude e equívoco.

Hugo Von Hofmannsthal

As palavras não são deste mundo

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