Sua sacola está vazia
categorias
Em estoque
Simulação de frete
As tensões entre tempo e espaço, entre tempo, espaço e poesia, os limites desses conceitos ou suas possíveis articulações são demandas que estão longe de um consenso na literatura. Além disso, este não é um livro sobre um determinado tempo/espaço como o leitor pode imaginar nas primeiras páginas ou mesmo pelo título. Mas sim a abertura de uma perspectiva de um movimento de leitura como provocação a ideia de uma poesia temporal que, para acender ainda mais as dúvidas – como deve ser a boa literatura ??? traz o amor como tema central, como mote, como enredo, e se desenvolve quase que exclusivamente ao redor de duas personagens. Ainda assim, a autora consegue fazer dessa mistura tão suspeita e de aparência tão simples, algo universal e ao mesmo tempo, ainda inexplicável, por mais explorado que já tenha sido. Porque Nestes dias impossíveis, há ligações nem sempre harmônicas entre o sonoro e o sentido, entre o ritmo, a imagem, a sintaxe e a materialização do pensamento. Há, Nestes dias impossíveis ???o paradoxo composto de inquietudes e contradições, algo que não é elucidação nem compreensão, pois o inexplicável está presente nos poemas, oferecendo sua própria linguagem ao que se murmura na ausência da palavra???, como bem disse Blanchot. Mesmo nos poemas em que o eu lírico afirma, o que percebemos, na verdade, são versos repletos de interrogações, num processo inacabado de um narrar indistinguível da imagem que busca representar a assimetria estranha das coisas e do tempo em que, aparentemente tudo se dá.
Na poesia atual, espera-se que ela se volte e se alimente do escuro, de um algo anacrônico, mas, como já disse Agamben ???pode-se dizer contemporâneo apenas quem não se deixa cegar pelas luzes do século e consegue entrever nessas, a parte da sombra, a sua íntima obscuridade???. Nesses dias impossíveis, de Paula Autran somos, de alguma forma, agraciados com a possibilidade de descobrir que a poesia não se contamina apenas do presente, mas também se desloca da sua época numa linha anacrônica entre passado e futuro, ainda que ausentes, para poder transformar e intercalar tudo numa coisa só: vida.