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Nasci sem um caminho de volta é a jornada de um filho para se libertar da casa/útero da mãe. Mas também é a história íntima de um menino sobre sua homossexualidade demonizada, do corpo/casa como espaço de pertencimento, resistência e perdição, da violência soturna das relações familiares.
Numa casa dominada pela presença feminina, construída para servir aos homens distantes e brutos, nasce o anti-herói, personagem e narrador do romance, para existir como um corpo estranho no corpo da casa.
Em seu romance de estreia, Raimundo Neto não pede licença para tocar com mãos ásperas a pele do leitor. Sua prosa lírica, sensorial, vigorosa e simbólica é fruto de labor com a linguagem. Não há uma só palavra que não seja sentida e experimentada. Cada frase contém um mundo submerso nas entrelinhas.
Este é um romance que pode ser lido em voz alta, tanto pelo apuro rítmico e melódico de sua escrita quanto pelo o que nele existe de corpos e gritos reprimidos. A casa é personagem fundamental e nela há secura e umidade, dor e gozo, chão e teto, território vasto e devastado. Há uma ruína que paira sobre o livro e que é a sua força poética: a casa é o corpo de tudo e de todos. Sintoma, doença e cura.
Raimundo Neto chega ao romance em grande estilo.
Um livro que não termina tão cedo dentro da gente.
Marcelo Maluf