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Quando foi publicado pela primeira vez, em 1988, Mau comportamento causou furor na cena literária americana com suas histórias de obsessão — frequentemente regadas a sexo, drogas e perversões — que iluminam o lado menos confessável do desejo humano. Em mais de um conto, mulheres jovens trabalham como prostitutas, orbitando uma Nova York dos anos 1980 que fervilha de aspirantes a artistas lutando por reconhecimento. Em outros, a relação entre duas amigas é construída com refinamento psicológico ímpar. Inveja, vaidade e frustração são sentimentos que Mary Gaitskill leva a sério. Aos trinta e poucos anos, a escritora de Detroit dinamitou as barreiras da ficção que restringiam aos personagens masculinos o direito de ser imperfeitos, de ter maus hábitos ou de cometer erros, e inaugurou um novo tempo das protagonistas refratárias a convenções e incapazes de se ajustar a moldes de delicadeza e bondade até então inescapáveis. Mais de trinta anos após sua primeira publicação, “Mau comportamento” se firmou como um clássico moderno do cânone americano e se apresenta como uma obra que transcende o nosso contexto político atual, como transcendia o de então, confirmando hoje o que já se intuía lá atrás: Mary Gaitskill é muito mais do que a voz de uma geração, é uma grande tradutora da natureza humana.