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À exceção de alguns sonetos e traduções de autores da antiguidade, este Discurso sobre a servidão voluntáriarepresenta toda a obra de Étienne de La Boétie (1530-1563). Como poderíamos classificá-lo? É um tratado humanista? Um libelo a favor da liberdade dos indivíduos e dos povos? Chega a ser espantoso como conseguiu escrever este texto em meados do século XVI, durante a consolidação dos Estados nacionais na Europa, em meio aos tumultos políticos e religiosos, sem ter a integridade de sua própria vida ameaçada, dado o potencial de insurgência do escrito. Entende-se que nada lhe aconteceu pelo fato de seu trabalho ter circulado apenas entre amigos. O Discurso foi publicado somente pouco após a morte do autor. A exortação de La Boétie nos impele a recuperar nosso natural amor à liberdade, e, sem o uso da violência, deixar de ser coniventes com a tirania. Assumir nossa condição de seres livres consiste, antes de mais nada, em não mais alimentar a cobiça dos tiranos, para que eles caiam com o próprio peso de sua maldade.