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Não há corpo fora da história e da linguagem. Entre o corpo e o discurso, as relações são diversas e constitutivas. A discursividade não só incide sobreas ações, os comportamentos e os sentidos do corpo, mas também chega até elementos de sua anatomia e de sua fisiologia. Em contrapartida, não há discurso sem corpo. Das substâncias e das formas históricas e orgânicas brota a matéria de toda fala. Além disso, essa matéria da fala e o trânsito de nossos enunciados estão eivados de marcas dos nossos corpos. Mas, é necessário acrescentar: o corpo não se reduz ao discurso. Por um lado, o fato de o corpo ser condição de possibilidade material e subjetiva do dizer indica a existência de espaços corporais aquém do discurso. Por outro, todos os discursos sobre o corpo e suas tentativas de enredá-lo não preenchem seus vazios e seus excessos, que projetam um espaço além do discurso. A partir desses avanços do pensamento de Courtine sobre os laços entre corpo e discurso, podemos ainda pensar nestes outros aspectos dessa relação fundamental: todo ser humano é um corpo falante e esse corpo é um lugar de fala por excelência.