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Sete contos sobre o desejo. Ou sobre como lidamos com o desejo dentro dos limites da nossa cultura. Nesta surpreendente incursão pela forma breve, o prêmio Nobel J. M. Coetzee nos apresenta um conjunto de narrativas de brilho perturbador.
Num dos textos deste livro, uma mulher se sente diariamente ameaçada por um cão. Em outro, uma escritora só encontra conforto ao cuidar de gatos abandonados. Também há passagens envolvendo bodes, galinhas, insetos. O título Contos morais, nesse sentido, poderia remeter a um diálogo com uma convenção da fábula clássica: o uso de bichos em histórias que enfatizam aspectos virtuosos da conduta humana.
Como se trata de J. M. Coetzee, no entanto, nada é tão previsível. Para quem conhece a obra deste autor, a um só tempo fácil e difícil, moderna e pós-moderna, não é surpresa que a ideia de moralidade seja subvertida por uma ironia constante, feita de contradições presentes inclusive no estilo da escrita. Assim, se a linguagem é transparente e direta, a complexidade das ideias que expressa gera um curto-circuito nas certezas de quem lê. Os contos aqui não oferecem nenhuma lição. Das contradições entre natureza e cultura, Coetzee faz brotar uma obra loquaz sobre todos nós.