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Armance e, cronologicamente, o primeiro dos grandes romances de Stendhal. Quando comparado a obras-primas como O vermelho e o negro e A cartuxa de Parma, porem, este romance de 1827 e considerado ambiguo – e isso por uma razao muito simples: toda a trama e articulada ao redor de um segredo sobre a vida do protagonista que nunca e revelado. A chave para se entender a trama estaria numa carta de Stendhal a Merimee (publicada na presente edicao), na qual ele explicita o motivo que impede a consumacao do amor entre o visconde Octave de Malivert e sua prima, Armance de Zohiloff: seu heroi sofre de babilanismo, ou seja, impotencia sexual. A julgar pelo tom lubrico que permeava sua correspondencia com Merimee, ele queria escrever um romance que satirizasse o ideal do amor romantico. O resultado, porem, e bem diferente: como a suposta anomalia permanece oculta, toda a torturante aproximacao dos dois amantes se da sob o signo do desafio a preconceitos sociais, politicos e economicos. Stendhal faz da misantropia de Octave e da integridade de Armance a metonimia de um ardor passional que sobrevive a uma sociedade de nobres decadentes e banqueiros, um mundo regido por contratos matrimoniais, em que o casamento poderia pacificar o tumulto do coracao.