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O episódio que desencadeia o fluxo narrativo em Amuleto, baseado em fatos reais, foi extraído de Os detetives selvagens, obra-prima de Roberto Bolaño. Trata-se da invasão do campus da Universidade Nacional Autônoma do México pelas tropas do exército, nos agitados dias de 1968. E da resistência silenciosa de uma personagem que, escondida no banheiro feminino da Faculdade de Filosofia e Letras por muitos dias, escapa da fúria repressora dos invasores. Esta personagem – um misto de artista meio hippie, louca e andarilha – é a imigrante uruguaia Auxilio Lacouture, auto-intitulada “mãe dos poetas e da poesia mexicana”.
Mas a genialidade de Bolaño em Amuleto é transfigurar essa personagem lendária e convertê-la em narradora na primeira pessoa. É a única narradora feminina em toda a sua obra, e seu relato configura uma homenagem aos poetas e artistas do México, mexicanos ou exilados espanhóis e latino-americanos. E uma elegia, também, a todos os jovens latino-americanos mortos na resistência às várias ditaduras instaladas no continente. Para conseguir esse intento, sua prosa torna-se altamente poética.