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Adua

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“Contas as histórias que tens, da melhor forma que podes” é a frase que a personagem-título lê aleatoriamente em um livro exposto em um supermercado de Roma. Neste romance de grande apelo sensorial, a escritora Igiaba Scego, filha da diáspora somali gerada pelo colonialismo fascista na África oriental, ampliou este “conselho” em vários níveis. Adua, cujo nome é uma homenagem à primeira vitória africana contra o imperialismo europeu, é uma das várias moças somalis que sonham com o mundo de glamour das estrelas de cinema. Para realizar seu ingênuo sonho de se tornar uma atriz, Adua acaba procurando os italianos que fazem todo o tipo de tráfico nos anos 1970 em sua cidade natal, Magalo. Em diversos planos narrativos, tanto espaciais quanto temporais, a infâmia a que Adua é submetida é entremeada com a história de seu pai, um intérprete multilíngue que foi trabalhar ainda muito jovem para os militares fascistas na Roma da década de 1930. A relação com a figura ausente e opressiva do pai é um dos eixos principais deste livro que expõe, de maneira mordaz e autoirônica, dores terríveis como a da mutilação genital das mulheres somalis. No entanto, mesmo diante de tanta brutalidade, terminamos a leitura enlevados com o cheiro de canela de Mogadíscio, com o som do sibilo das saias romanas em arco-íris, com a beleza simbólica de um turbante azul. Pois, tomando de empréstimo uma bela expressão do avô de Adua, o adivinho Hagi Safar, este romance tem a imensidão tão infinita quanto a porção de céu contida nos olhos de um anjo.

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