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Ate 1946, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu os jogos de azar no Brasil, a noite carioca girava em torno dos grandes cassinos: o da Urca, o do Copacabana Palace, o Atlantico, ou mesmo, subindo a serra, o Quitandinha, em Petropolis. Eram verdadeiros imperios da boemia, onde a roleta e o pano verde serviam de pretexto para espetaculos luxuosos, atracoes internacionais e muito champanhe. A canetada presidencial gerou uma legiao de desempregados – musicos, cantores, dancarinas, coristas, barmen, crupies – e um contingente ainda maior de notivagos carentes. Os cassinos fecharam para sempre, mas os indestrutiveis profissionais da noite, sem falar nos boemios de plantao, logo encontraram um novo habitat: as boates de Copacabana. Eram casas em tudo diversas dos cassinos. Em vez das apresentacoes grandiosas, dos espacosos saloes de baile e das orquestras em formacao completa – que estimulavam uma noite ruidosa -, as boates, com seus pianos e candelabros, favoreciam a penumbra e a conversa a dois. Isso nao quer dizer que tenham deixado de ser o centro da vida social. Ao contrario, nao havia lugar melhor para saber, em primeira mao, da queda de um ministro, de um choque na cotacao do cafe ou de um escandalo financeiro do que nas principais boates, como o mitico Vogue, frequentado por exuberantes luminares da Republica e por gra-finos discretos e atentos. Mas a noite era outra: assim como a ambiance, a musica baixou de tom. Os instrumentistas e cantores voltaram aos palcos em formacoes menores, andamento medio e volume baixo, quase um sussurro. Tomava corpo um novo genero, um samba suavizado pela cancao, que encontrou nas boates o lugar ideal para se desenvolver plenamente. Essa nova musica, com seus compositores, letristas e cantores; as boates, com seus criadores, funcionarios e frequentadores, e o excitante contexto social e historico que fez tudo isso possivel sao o tema do novo livro de Ruy Castro, que mais uma vez nos delicia com sua prosa arrebatadora.