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A história, como se sabe, muito mais do que a sucessão e ordenação de fatos, é uma estrutura orgânica, dinâmica, complexa, cheia de vazios e imprecisões, que se impõe, em cada geração, como interpretação contemporânea do mundo. A forma como cada sociedade organiza os dados disponíveis, as alusões que faz, a maneira pela qual as relações são constituídas determina o encadeamento dos fenômenos passados e, evidentemente, estabelece a compreensão do presente. Podemos, portanto, falar de não apenas uma, mas de muitas histórias concorrendo simultaneamente.Joseph Rykwert havia acabado de publicar A Ideia de Cidade, em 1963 (Perspectiva, 2006), fazendo amplo e minucioso uso de estudos arqueológicos, antropológicos e historiográficos, para defender a tese de que a gênese do urbano nasce de modelos cosmogônicos e princípios culturais, opondo-se à fórmula funcionalista do planejamento das cidades contemporâneas, quando o Moma abre a exposição e publica o catálogo Architects Without Architecture, estabelecendo a tese de que muitas das mais extraordinárias e belas construções em todos os tempos teriam surgido dissociadas de qualquer contexto cultural. Um despropósito para Rykwert, que reage publicando A Casa de Adão no Paraíso, em 1972 (Perspectiva, 2003), em que discute a gênese do edifício, demonstrando sua vinculação originária às crenças e práticas culturais das sociedades de então, desmontando a tese da abstração e do acaso das construções.Porque Joseph Rykwert nunca foi um pesquisador imparcial. Sua obra revela-se nitidamente como obra de resistência à noção do objeto arquitetônico como fenômeno em si, destituído de vínculos sociais. Em 1996, reafirmando o peso da cultura e dos modelos cosmogônicos em toda obra humana e, mais do que isso, afirmando a presença do corpo humano como elemento estruturante da arquitetura desde a Antiguidade aos dias de hoje, Rykwert nos traz o extraordinário ‘A Coluna Dançante: Sobre as Ordens na Arquitetura’, em que associa pesquisas historiográficas de diversas áreas do conhecimento, reúne dados e indícios de largo período de tempo e associa elementos físicos, metafísicos e psicológicos para formar e conformar o lastro arquitetura como metáfora na grande aventura humana.Essencial, erudita e grandiosa, ‘A Coluna Dançante’ mostra que a história é muito mais do que uma crônica, vai muito além dos fatos em si. É arma e chave para o desenvolvimento cultural e para o entendimento de si da humanidade. [S.K.]