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A cidade vista tem origem num arguto exercício de olhar sobre Buenos Aires, construído ao longo de quatro anos no corpo a corpo de Beatriz Sarlo (e sua câmera fotográfica) com a cidade, para uma coluna semanal do jornal Clarín. Que não se espere encontrar aqui a Buenos Aires dos roteiros turísticos, portanto. O que se revela, a cada linha deste raro ensaio, é uma Buenos Aires em grande parte desconhecida e para muitos invisível, que nasce da crise econômica vivida pela Argentina a partir dos anos 1990, com consequências significativas sobre sua cultura urbana. Da observação de coisas prosaicas que encontra na rua – o cobertor envolvendo o menino que dorme nos arredores da igreja de São Caetano, as quinquilharias vendidas pelo camelô na Calle Florida, os bares de Palermo, os cursos de idiomas em Koreatown – a autora salta para Borges, Arlt, Martínez Estrada, Zech, Foucault, Barthes, Koolhaas, mostrando ao mesmo tempo erudição e sensibilidade incomuns para uma esfera da vida urbana que a princípio não merece a atenção (muito menos o olhar) de ninguém. O resultado não poderia ser mais fascinante: a cidade, tornada criticamente visível. Tradução de Monica Stahel.